domingo, 21 de julio de 2013

Carta a um filho que não esteve aqui.

Nos últimos, tenho me despreocupado na proliferação dos vírus e das doenças sexualmente transmissíveis, tenho deixado de lado que por algum acidente haja contribuído com o aumento da natalidade infantil. Tenho recordado das vivencias e viagens o quanto em algum dia fui uma criança inocente, traquina e perversa. Tenho visto pelos espelhos um outro alguém que nunca deixou de ser o que verdadeiramente é.

Outra vez, reporto-me em primeira e única pessoa, que jamais terá uma outra igual, sendo esta aquela mesma, em que um dia tenha sido o que nunca foi. Já o outro se reflete ao espelhado imaginando em ser ‘Um Qualquer’ que não seja ele mesmo, por mais que seja em um breve devido ou indevido momento. Já as poucas ocasiões há permitido ser o que realmente gostaria de ser o que é...

O real tem-se transfigurado no virtual, onde as “verdadeiras relações” é vista através de uma caixinha preta cheias de informações banhadas de bipolaridades. O prazer ele é agora imagético transmitido por bits. - Tenho calor, temo o que não possa vir. O igual me assusta, me mata a cada dia, ou talvez a cada instante.

As noites sempre foram turbulentas e tenho aprendido a não temer os mortos, sendo assim ao contrário dos vivos... aaa meu bom e velho e mau e bêbado Buckowski, que bom de que alguém um dia tenha dito a mim para não ler-te. - Tão poucos livros tenho lido em esta espontânea vida. A primavera me açoita com o calor e atiça a pele, a carne se faz trêmula e simples; ela nos cospe na cara como breves suspiros cheios de labirintos. Nunca consegui agradar orientes e ocidentes apesar de levar no semblante um sorriso onde muitos dizem “que belo é ver tua dentadura branca, nesta pele negra.”. E sim, e dai...?

Quantos beijos recebi, quantos desejos tem sido expostos, quantas coisas não tenho vivido, quantos abismos permaneço caindo? Acreditei em algum momento que as marcas que carregamos em nossas mãos, elas foram traçadas pelo acaso. Mas tenho descoberto que este dito destino sou eu quem a marco nesta virulenta mão... Por sinal no dia de ontem, troquei a maçaneta da porta e a maçaneta tem assinalado minhas mãos. Ela a cortou sem dó e piedade. Talvez esta sina tenha seguido por outros rumos. O normal seria fugir e fatigar os próprios e impropérios impulsos. Não tenho fugido e muito menos estafado os impulsos, pois a preferido adentrar em seu submundo e padecer como um pai que escreve uma carta a um filho que nunca esteve aqui.
A proeza da pobreza, o tédio, o luxo, o prazer, as situações e as alquimias que a vida dispara pela janela, é o quem tem sido o primordial de uma instinta juventude plasmada pelo amor e pelo ódio assumido e assustado, igualzinho aquele susto que uma criança leva ao ver uma La-Ursa fantástica aproximando-se dela.

Prefiro amar e deixar-se cair nas sombras...

As portas se fecham e por sua própria conta, jogam suas chaves fora. Pra fora do adentro objetivando chegar a qualquer lugar ou se não possivelmente a alguma iluminação. Tenho deixado de lado minhas obsessões já que meus olhos tem me mostrado o quanto belo, feio e ridículo que sou.
Eu não tenho... Talvez se eu tivesse, acredito que mesmo assim não teria. Já que não vejo o que não tenho ao menos tenho tudo o que realmente necessite, ou o que mais deseje. Então eu tenho vida, eu tenho minha liberdade. Eu tenho a vida.

Espero ansioso pelo tempo e que me cuspa na cara as marcas das rugas e os cabelos brancos...



 Ângelo Fábio
 Recife, 21 de julho de 2013.

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